por que faço filmes?

Outro dia me perguntaram porque eu fazia filmes, ou uma pergunta do tipo, “o que você tem a dizer ao mundo”. Nada respondi, mas o que eu gostaria de dizer é que, para tentar responder isso, eu precisaria de oito horas, talvez oito dias, e não um minuto. Eu não conseguiria responder isso em um minuto, eu não tenho esse poder de síntese. E que para responder isso eu teria que inevitavelmente contar histórias da minha vida pessoal, porque, para mim, cinema e vida são a mesma coisa, ou melhor, não é que sejam a mesma coisa, mas sim que os limites entre um e outro são muitas vezes impossíveis de assinalar com precisão, e uma coisa está umbilicalmente ligada à outra. E, ainda, que para responder isso, eu teria que falar sobre coisas muito desagradáveis, teria que fazer confidências que não sei se alguém estaria preparado para ouvir, e não sei se eu estaria pronto para dizer para uma pessoa que não conheço muito bem. Que para dizer isso eu teria que usar fotos, músicas, filmes que passariam isso melhor do que eu poderia expressar por palavras. Em suma, tentar dizer isso exigiria uma descarga emocional tão grande, um esforço tão grande que talvez eu não pudesse suportar. E o pior: provavelmente você não estaria muito interessado em ouvi-lo, para além da superfície de algumas frases de efeito que durariam no máximo um minuto.

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