Filme Cultura 50
Saiu a edição num 50 da Filme Cultura, relançamento da prodigiosa revista que existia desde a época do INC. Acho que nesse momento em particular em que passa o cinema brasileiro, o lançamento de uma revista crítica impressa plural é bastante importante, e diante disso foi muito acertada a formação de um dossiê “cinema brasileiro agora”. Acontece que o foco escolhido pela revista foi um foco regional: para falar do cinema brasileiro de hoje, precisa-se falar do cinema brasileiro que acontece em cada estado. Há por trás disso um discurso de descentralização e regionalização típico das políticas do governo federal. Ainda, como o Gustavo Dahl apontou muito bem no prólogo, buscou-se fugir das eternas falsas discussões sobre os aspectos econômicos ou industrialistas do cinema brasileiro, para se investir numa análise estética, pensando principalmente num cinema brasileiro de linguagem, ou de novos talentos. Ou seja, houve um recorte claro, buscou-se não falar do cinema brasileiro de hoje, mas de “um certo cinema brasileiro”.
E quando se fala de um certo cinema brasileiro, não se pode deixar de citar um pequeno estado lá no Nordeste, um estado fudido, um dos estados mais desiguais do Brasil, com um dos piores IDHs do país: o Estado do Ceará. O cinema que está sendo feito em Fortaleza está presente em toda a revista, não só restrito ao capítulo especificamente destinado ao cinema do estado, mas na revista como um todo, desde o brilhante epílogo do texto do Francis Vogner sobre o mal-estar no cinema brasileiro, passando pelo cinema mineiro e pernambucano. Até no cinema carioca se fala no cinema cearense! (é só ver as declarações dos cineastas cariocas aqui http://www.filmecultura.org.br/?p=145, onde quase todos falam do cinema no Ceará). Diante de uma cidade cada vez mais fudida, abandonada pelas políticas públicas e descaradamente desigual, um conjunto de realizadores resolveu ver nas deficiências da cidade uma inesperada potência de criação, um desejo de “estar juntos”. Esse “estar junto”, essa união, essa amizade, está refletida não apenas nos filmes, que despertam diálogos impossíveis e impensáveis, todos de uma beleza esguia e misteriosa, que não se revela de cara, num primeiro momento, mas essencialmente nos encontros “pra valer”, nos bares “cafuçus” da cidade, numa laje, onde quer que seja. Estado abandonado mas que ao mesmo tempo oferece uma certa política pública que tenta dar suporte ao que anda acontecendo por aqui, tanto em termos dos diversos cursos de formação, da extraordinária repercussão da ainda incompleta Vila das Artes, e especialmente da Escola do Audiovisual (o primeiro longa realizado por alguns dos alunos da primeira turma simplesmente foi parar na Cahiers du Cinema!), e também dos editais a nível estadual e municipal. Potência de criação que dialoga com outras vertentes, como a música e a dança, reforçando um caldo cultural do lugar.
Além dos meus comentários provocativos sobre o atual estado de coisas do cinema carioca, para mim, pessoalmente, neste particular momento de mudança radical da minha vida, a publicação da revista veio num momento mágico, ao mesmo tempo confirmando uma trajetória tímida mas que vem se consolidando pela insistência, pela teimosia, pela resistência, e também, claro, acredito que, pela coerência. O lançamento da revista aconteceu justamente na véspera do meu embarque para o Ceará. Mas o que quero dizer especialmente é que este blog, este modesto blog, mas que ao mesmo tempo está perto de completar seis anos de existência, teve a honra de ser incluído nessa edição histórica. É lá na seção “Peneira Digital”, em que se apontam três blogs de destaque na net, e o Cinecasulofilia é um deles. Não bastasse a mera citação, que já seria suficiente motivo de orgulho, a delicadeza e a precisão das palavras do Carlos Alberto Mattos me deixam extremamente encantados, por confirmar a possibilidade deste blog de ter um olhar original e pessoal sobre o cinema e o mundo. Pena que uns gêmeos me raptaram a revista e não posso agora reproduzi-las aqui...
E quando se fala de um certo cinema brasileiro, não se pode deixar de citar um pequeno estado lá no Nordeste, um estado fudido, um dos estados mais desiguais do Brasil, com um dos piores IDHs do país: o Estado do Ceará. O cinema que está sendo feito em Fortaleza está presente em toda a revista, não só restrito ao capítulo especificamente destinado ao cinema do estado, mas na revista como um todo, desde o brilhante epílogo do texto do Francis Vogner sobre o mal-estar no cinema brasileiro, passando pelo cinema mineiro e pernambucano. Até no cinema carioca se fala no cinema cearense! (é só ver as declarações dos cineastas cariocas aqui http://www.filmecultura.org.br/?p=145, onde quase todos falam do cinema no Ceará). Diante de uma cidade cada vez mais fudida, abandonada pelas políticas públicas e descaradamente desigual, um conjunto de realizadores resolveu ver nas deficiências da cidade uma inesperada potência de criação, um desejo de “estar juntos”. Esse “estar junto”, essa união, essa amizade, está refletida não apenas nos filmes, que despertam diálogos impossíveis e impensáveis, todos de uma beleza esguia e misteriosa, que não se revela de cara, num primeiro momento, mas essencialmente nos encontros “pra valer”, nos bares “cafuçus” da cidade, numa laje, onde quer que seja. Estado abandonado mas que ao mesmo tempo oferece uma certa política pública que tenta dar suporte ao que anda acontecendo por aqui, tanto em termos dos diversos cursos de formação, da extraordinária repercussão da ainda incompleta Vila das Artes, e especialmente da Escola do Audiovisual (o primeiro longa realizado por alguns dos alunos da primeira turma simplesmente foi parar na Cahiers du Cinema!), e também dos editais a nível estadual e municipal. Potência de criação que dialoga com outras vertentes, como a música e a dança, reforçando um caldo cultural do lugar.
Além dos meus comentários provocativos sobre o atual estado de coisas do cinema carioca, para mim, pessoalmente, neste particular momento de mudança radical da minha vida, a publicação da revista veio num momento mágico, ao mesmo tempo confirmando uma trajetória tímida mas que vem se consolidando pela insistência, pela teimosia, pela resistência, e também, claro, acredito que, pela coerência. O lançamento da revista aconteceu justamente na véspera do meu embarque para o Ceará. Mas o que quero dizer especialmente é que este blog, este modesto blog, mas que ao mesmo tempo está perto de completar seis anos de existência, teve a honra de ser incluído nessa edição histórica. É lá na seção “Peneira Digital”, em que se apontam três blogs de destaque na net, e o Cinecasulofilia é um deles. Não bastasse a mera citação, que já seria suficiente motivo de orgulho, a delicadeza e a precisão das palavras do Carlos Alberto Mattos me deixam extremamente encantados, por confirmar a possibilidade deste blog de ter um olhar original e pessoal sobre o cinema e o mundo. Pena que uns gêmeos me raptaram a revista e não posso agora reproduzi-las aqui...
Comentários
a revista tá com o guto agora. eu mal consegui ler tudo o que queria. coletivo é assim mesmo rsrs.
Gabriela