novos trabalhos dos Irmãos Pretti
Para mim o bom filme é aquele que me alimenta a criar. Aquele em que a gente sai da sala de exibição doido para faqzer alguma coisa. Por isso, cada filme dos Irmãos Pretti para mim é como uma dádiva, em que a minha proximidade com esses trabalhos me faz despertar coisas adormecidas dentro de mim.
Em Azul, Luiz Pretti divide pela primeira vez a direção com alguém que não seja seu irmão gêmeo. No caso, Themis Memória, também atriz do curta. A roupa é um espelho do corpo, e o corpo, um espelho da alma. Então em que medida vestir-se (ou despir-se) é viver, morrer, ressuscitar, mudar e continuar o mesmo? E quando amamos, como “vestimos” o contato do outro, de modo que se torne mais de nós mesmos? A pele do outro e a nossa roupa. Nossa pele e a roupa do outro. Despir-se de nossa roupa e vestir a pele do outro. E assim sucessivamente. Ao mesmo tempo, vestir e despir são movimentos. Movimentos do corpo e movimentos da alma, dependendo de como se vê. A pele e o corpo. A pele e a roupa. Eu e o outro. A vida e o cinema. Dois e um. Dois em um.
Depois, há um trabalho mais ambicioso, o novo longa dos Irmãos Pretti: “o desejo é mais forte que a morte”. De novo, um trabalho extremamente rigoroso, de tempos alongados, com um certo diálogo com tudo o que os gêmeos vêm fazendo, em especial o seu média Sonata das Sombras. Além de um diálogo claro com o cinema de Pedro Costa (em especial a luz de Juventude em Marcha), outras referências são claras, desde Apichatpong, até João Cesar Monteiro, Fassbinder, Gus van Sant, o cinema expressionista (e suas variantes como O Homem que Ri e He who gets slapped), e até na minha delirante cabeça Shinji Aoyama, Jacques Nolot e Naomi Kawase. Um trabalho grande, de grande força interior, que ainda estou em fase de absorver, um filme sobre como é doloroso e necessário enfrentar a morte, e ir além dela para encontrar a nós mesmos. Mas o que me interessa em particular nem é o clima de fábula romântica nem a possibilidade de mergulho nessa floresta, mas sim o cinema da primeira parte do filme: esse grande vazio interior, com planos extremamente longos, um rigor absurdo e um enorme sentimento de como é difícil viver diante da falta de sentido da vida e de nossa impotência para lidar com isso com humor e leveza.
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luiz