Une femme douce
Une femme douce
De Robert Bresson
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Num certo sentido, Une Femme Douce é um filme atípico de Bresson. Por isso, apesar de não ser um de seus melhores trabalhos, é bastante curioso e interessante. Ao mesmo tempo, é filme típico de Bresson. As diferenças: um certo cinismo e jogo de imagens na relação homem-mulher e o jogo temporal do filme quase todo narrado
O cinema de Bresson de sempre: a decupagem estranha para os objetos que circundam a casa (foco nos objetos e foco no deslocamento dos corpos pelos corredores, escadas, passagens de portas, etc. – é um filme sobre o deslocamento desses corpos na busca de se encontrarem mas que acabam escapando) e a questão do dinheiro que destrói a harmonia do casal. Coisa curiosa: o ponto de vista do filme é o do homem, tentando rever o que se passou entre o casal e tentando entender as razões dessa mulher. Ou seja, não é narrado em primeira pessoa, diferentemente dos outros trabalhos de Bresson, o que resulta no personagem dessa mulher ser ainda mais enigmático e difuso aos nossos olhos. Quem é essa mulher, o que ele queria de fato? a dificuldade do amor e do perdão, o não-conseguir viver com esse homem tão mesquinho mas que a amava de uma forma que ela não conseguiria nunca retribruir. A dificuldade de viver sem saber o que se ama, sem saber se se ama (ele pelo menos amava o dinheiro e a amava, mas ela, o que amava?). Ao final, as mesmas obsessões de Bresson: a morte, a composição da personagem sem motivações psicológicas claras, a crítica ao materialismo, a angústia de viver. E um duro e seco plano final: um plano fechado de um objeto, dentro de um filme cheio de planos fechados
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