Belle Toujours
De Manoel de Oliveira
E-mule qui 15 março 2007
*** ½
a gente ouve algumas coisas sobre o que seja envelhecer. o manoel de oliveira pega tudo isso e joga na lata do lixo. a gente tambem ouve coisas sobre o papel dos remakes e das marcas numa perspectiva de redução do risco num cinema industrial. o manoel de oliveira pega tudo isso e joga na lata do lixo. a lata do lixo fica cheia. ele pega e descontrói todos os lugares-comuns em torno desses conceitos (o envelhecer, o cinema industrial) não com uma fúria e com um discurso inflamado mas com um enorme senso de ironia e generosidade, como uma grande piada. mas sem abrir mão de uma coisa, talvez mais essencial de tudo isso: O RIGOR. Belle Toujours é um filme sobre o cinema e o processo de criação, sobre o desejo e a virilidade, sobre o papel da representação, sobre os nossos sonhos, perversões e fantasias, mas também é um filme de um cineasta que insiste em dar uma risada na cara da morte não por deboche ou desdém mas é porque assim as coisas parecem ser. Catherine Deneuve não pôde fazer o papel por estar envolvida em uma produção milionária. Oliveira deu uma resposta que é uma síntese sobre o que está em jogo no filme: "lamento, mas eu não posso mais esperar". Com 98 anos, Oliveira não é o menino Tarantino atrás de suas estripulias ou o pervertido Sternberg atrás de seus fetiches. Na maturidade, Oliveira dá um abraço no mundo, um abraço que não é um de rotina mas também sem o drama de um abraço de despedida. Um filme que dá um enorme tapa com luvas de pelica naqueles que conspiram contra ter prazer aos noventa.
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