O Tempo que Resta
O Tempo que Resta
De François Ozon
Paissandu qui 21 21:15
* ½
(Algumas observações esparsas e confusas sobre o filme)
Nunca fui muito fã do cinema de Ozon
O Tempo que Resta é um filme de entressafra de Ozon: interessante quando pensamos numa filmografia como a francesa, em que o cineasta faz um filme por ano, um filme a cada dois anos. Aí sim, cabe um “filme menor”, um filme de entressafra. O que não é o caso na brasileira, quando se faz um filme a cada dez anos.
Minha mãe me diz que eu sou muito exigente quando eu vejo com ela um capítulo da novela das oito e falo mal de quase todos os atores jovens. Acha um absurdo eu não ter gostado da tal menina que ganhou o concurso do Luciano Huck. Eu digo a ela que por um lado não gosto da idéia que o ator bom é o que, ao invés de atuar, grita; e de outro que não gosto de ator que quer “falar bonitinho”. Aí eu vejo este O Tempo que Resta e vejo uma atuação simples e muito humana de Melvil Poupaud. Procurando na internet, descubro que ele foi nada menos que o ator principal do ótimo Conto de verão do Rohmer. Romain, o personagem de Poupaud, dessobre que tem poucos meses de vida e deixa-se morrer, pois não adianta. Seu personagem vai ter uma transformação com a notícia, mas ao mesmo tempo não quer deixar isso passar para as pessoas. Sem gritar e sem falar bonitinho, Poupaud, com extrema economia de olhares e de gestos, vai desconstruindo fisicamente esse personagem, livrando-se de si mesmo, num trabalho de atuação que me agradou muito.
O próprio mote do filme me lembrou os filmes do Kieslowski, me lembrou o A Liberdade é Azul, que simplesmente é um filme que vai ficar para sempre comigo. Sim, porque com a notícia, Romain quer se livrar de tudo, não quer sofrer, não quer ser vítima e não quer transmitir essa sensação para amigos, parentes e namorado (ele é homossexual). Mas não consegue se livrar de tudo, é claro. Então o filme vai se debruçar sobre esta descoberta humana. Só que Ozon não é Kieslowski, e O Tempo que Resta está muito abaixo da sensação que me passou os filmes do Kieslowski. Mas por quê?
Se por um lado o filme de Ozon tem esse tempo da descoberta e essa inclinação para essa redescoberta do humano que me agradam, por outro o filme do Ozon está repleto dos signos fáceis desse tipo de cinema: o “feel good” da redescoberta e da sensação de morte. A morte não é trazida incômoda para o espectador, ela é adocicada pela trilha sonora, pela linguagem, pelo “cinema de bons costumes” de Ozon.
Clichês de Morangos Silvestres: visita à avó (Jeanne Moreau como avó me lembra de um filme que Katherine Hepburn foi avó numa refilmagem de Tarde Demais para Esquecer, coisas do tipo...), flashbacks do adulto presente se vendo quando criança, reavaliação da vida diante da notícia da morte. Mas sem o frescor do filme do Bergman.
Se por um lado há esses clichês, de outro há cenas bacanas: o sexo a três, a última conversa Romain-Sacha, o fim (à la Morte em Veneza na praia).
Mas no final fica esse gosto de decapção na boca: ainda que não seja inteiramente uma chatice, o tema da “redescoberta de si mesmo e da vida” é visto por Ozon de uma forma desgastada, já vista antes, embora recheado com um cinema de alguma sensibilidade e de observação ao tempo e à linguagem não muito vulgares.
De François Ozon
Paissandu qui 21 21:15
* ½
(Algumas observações esparsas e confusas sobre o filme)
Nunca fui muito fã do cinema de Ozon
O Tempo que Resta é um filme de entressafra de Ozon: interessante quando pensamos numa filmografia como a francesa, em que o cineasta faz um filme por ano, um filme a cada dois anos. Aí sim, cabe um “filme menor”, um filme de entressafra. O que não é o caso na brasileira, quando se faz um filme a cada dez anos.
Minha mãe me diz que eu sou muito exigente quando eu vejo com ela um capítulo da novela das oito e falo mal de quase todos os atores jovens. Acha um absurdo eu não ter gostado da tal menina que ganhou o concurso do Luciano Huck. Eu digo a ela que por um lado não gosto da idéia que o ator bom é o que, ao invés de atuar, grita; e de outro que não gosto de ator que quer “falar bonitinho”. Aí eu vejo este O Tempo que Resta e vejo uma atuação simples e muito humana de Melvil Poupaud. Procurando na internet, descubro que ele foi nada menos que o ator principal do ótimo Conto de verão do Rohmer. Romain, o personagem de Poupaud, dessobre que tem poucos meses de vida e deixa-se morrer, pois não adianta. Seu personagem vai ter uma transformação com a notícia, mas ao mesmo tempo não quer deixar isso passar para as pessoas. Sem gritar e sem falar bonitinho, Poupaud, com extrema economia de olhares e de gestos, vai desconstruindo fisicamente esse personagem, livrando-se de si mesmo, num trabalho de atuação que me agradou muito.
O próprio mote do filme me lembrou os filmes do Kieslowski, me lembrou o A Liberdade é Azul, que simplesmente é um filme que vai ficar para sempre comigo. Sim, porque com a notícia, Romain quer se livrar de tudo, não quer sofrer, não quer ser vítima e não quer transmitir essa sensação para amigos, parentes e namorado (ele é homossexual). Mas não consegue se livrar de tudo, é claro. Então o filme vai se debruçar sobre esta descoberta humana. Só que Ozon não é Kieslowski, e O Tempo que Resta está muito abaixo da sensação que me passou os filmes do Kieslowski. Mas por quê?
Se por um lado o filme de Ozon tem esse tempo da descoberta e essa inclinação para essa redescoberta do humano que me agradam, por outro o filme do Ozon está repleto dos signos fáceis desse tipo de cinema: o “feel good” da redescoberta e da sensação de morte. A morte não é trazida incômoda para o espectador, ela é adocicada pela trilha sonora, pela linguagem, pelo “cinema de bons costumes” de Ozon.
Clichês de Morangos Silvestres: visita à avó (Jeanne Moreau como avó me lembra de um filme que Katherine Hepburn foi avó numa refilmagem de Tarde Demais para Esquecer, coisas do tipo...), flashbacks do adulto presente se vendo quando criança, reavaliação da vida diante da notícia da morte. Mas sem o frescor do filme do Bergman.
Se por um lado há esses clichês, de outro há cenas bacanas: o sexo a três, a última conversa Romain-Sacha, o fim (à la Morte em Veneza na praia).
Mas no final fica esse gosto de decapção na boca: ainda que não seja inteiramente uma chatice, o tema da “redescoberta de si mesmo e da vida” é visto por Ozon de uma forma desgastada, já vista antes, embora recheado com um cinema de alguma sensibilidade e de observação ao tempo e à linguagem não muito vulgares.
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