A MULHER E LA BÊTE

A MULHER E LA BÊTE

de Walerian Borowczyk

Mostra Indie, BH 30 agosto qua 18:45

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Este foi o primeiro filme do polonês Borowczyk que vi, numa cópia 35mm, lá na Mostra Indie de BH, uma oportunidade fantástica para ver esse clássico do cinema subversivo. Já na primeira seqüência sabemos o que esperar do filme: planos próximos dos órgãos genitais de cavalos sendo observados por um homem, excitado com cena. A partir daí, Borowczyk vai fazer um filme bem humorado, de enorme sensibilidade e grande poder crítico. Primeiro porque o filme vai desconstruir o suposto filme histórico, até porque a proposta de Borowczyk é exatamente de demolir o suposto puritanismo dessa aristocracia cada vez mais decadente. O humor é corrosivo, como típico filme polonês, e os elementos surrealistas povoam a tela. Borowczyk ainda faz uma decupagem estranha, criativa, especialmente no enquadramento, em deslocamentos esguios da câmera que sempre nos deixam desconfortáveis dentro desse ambiente.

 

A base do filme é uma espécie de recriação da fábula da bela e a fera, e a da exploração da visceralidade dos instintos no meio de um mundo cada vez mais racional. Ou ainda, o filme é um vigoroso grito de inconformismo contra a caretice dos costumes que reprimem a liberdade individual. Mas no meio disso Borowczyk faz um filme político sobre a decadência de uma aristocracia e, claro também faz política de subversão através da linguagem, que mistura ficção farsesca e animação (gênero em que aliás o diretor iniciou no cinema).

 

Mas o que é desconcertante é como Borowczyk mistura o grotesco e o sublime dentro do seu filme. O filme tem cenas que beiram o sexo explícito com animação (a bela em seus sonhos transa com a fera – um lobo de animação), fartas em ejaculações e coisas do tipo. Mas ao mesmo tempo o filme tem, nos recursos de linguagem, na decupagem, no quadro, recursos extremamente poéticos. Ou seja, mais que condenar o puritanismo, Borowczyk quer apontar um caminho de liberdade, e isso é o que torna esse modesto filme extremamente fascinante. Planos subjetivos da bela em êxtase, cortes para o céu, um tom levemente ingênuo e pueril.

 

Muito bom e interessante como o diretor consegue combinar essas múltiplas facetas – o político, o psicológico, o libertário, o cinema de linguagem, o clima histórico farsesco, o grotesco, a fábula, o surrealismo – com grande habilidade e energia. Ousado, crítico, poético, cinematográfico... um verdadeiro colírio para os olhos.

 

Comentários

Anônimo disse…
O filme eh otimo, mas tem nada de sublime! ahahahaha
Anônimo disse…
Realmente, tenho que concordar que o filme é inquientante para os padrões da época. Talvez assistí-lo hoje, seja o mesmo que assistir jaspion. Com aqueles monstros de olhos tortos e cenários balançando. Mas ainda assim gostaria de revê-lo. Seria muito interessante retornar àquela mistura de chapeuzinho vermelho, cinema pornó spaguetti e tara animal.

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