(FESTRIO) Cidade Baixa

Cidade Baixa
De Sérgio Machado
Odeon sex 30 12:00
* ½

Apesar de tão elogiado em sua passagem numa mostra paralela em Cannes, Cidade Baixa acabou decepcionando. Trata-se na verdade de uma bem contada história sobre um triângulo amoroso: uma história bem contada, bem fotografada, bem atuada, bem montada. Ou seja, um filme correto. Só que estou farto de “filmes corretos’ e “soluções acertadas”. O filme tem muito a grife da Videofilmes e isso atrapalha demais, porque não há um único instante em que há uma declaração de amor ao cinema, em que há um desejo pelo risco, em que há um ato de entrega: tudo no filme é correto, pensado, preparado, mas tudo “no mau sentido”, em que não há uma energia própria do cinema, então me pareceu tudo forçado, sem vida, superficial, e ainda com uns clichês do “cinema que diz alguma coisa” (os três sentados à beira do mar como em Terra Estrangeira; Lázaro Ramos se agarrando nas cordas do ringue como se estivesse cruxificado). O final, com a troca de olhares em superclose, pareceu risível quando comparado com o fim de Não Amarás, em que a questão do olhar é dessa vez sim trabalhada sem clichês de forma muito mais simples em relação à linguagem mas muito mais verdadeira. Outra: o filme cheio de palavrão e piadinhas grosseiras acabou longe de mergulhar no submundo do cais do porto, sendo um submundo de grife à la Videofilmes. O filme tenta ser uma pequena reflexão sobre o papel do desejo e da amizade, tenta desenvolver essa relação, mas fica essencialmente no roteiro. É isso: Sérgio Machado como cineasta é um bom roteirista. Seu filme se prende em desenvolver o roteiro e fica preso a ele, tentando servir-lhe ao máximo. Apresenta bem o roteiro, mas como “filme de roteiro”, Cidade Baixa é correto, sendo mais um produto coerente para a cartela internacional da Videofilmes.

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