A Cor do Romã
A Cor do Romã
De Sergei Paradjanov
****
Revi, devidamente acompanhado, este filme revolucionário do Paradjanov, e as palavras me faltam. Diria que é um dos filmes mais ousados da história do cinema (talvez rivalize apenas com Crônica de Anna Magdalena Bach). É o tipo de filme que cada plano esconde uma surpresa, que nunca conseguimos adivinhar qual será o próximo plano. Paradjanov foi preso e torturado por causa desse filme, e não é à toa, pois num regime centralizador como o russo, uma obra de arte anárquica como essa não poderia ser deixada incólume. Paradjanov tenta reproduzir o impacto da arte medieval, toda a tradição dos trovadores medievais, e da essência viva das origens da arte e do povo da Armênia remota, mas como isso é possível para o espectador de hoje? Então que Paradjanov cria um espetáculo arrebatador, um filme anticinematográfico, porque o cinema, por definição, como muito bem já colocou o Walter Benjamin, é uma arte pós-revolução industrial. Então só é possível falar das origens do povo e da arte armênio no cinema fazendo um cinema anticinematográfico. Essa é a missão de Paradjanov, que faz um filme absolutamente místico, imbuído de um senso de missão e devoção inacreditáveis, cuja energia é plenamente perceptível do primeiro ao último plano. É o tipo de filme que temos que assistir ajoelhados sobre o milho. Para Paradjanov, o cinema de poesia é um cinema de sensações, um cinema plástico, de sons, imagens, cores, formas e texturas. No entanto, seu sentido “antiquado” de mise-en-scene (toda a idéia da racionalização e da tridimensionalidade do espaço na arte é obviamente pós-renascimento e portanto pós-bizantina) não consegue apagar um profundo sentido de incorporação do espaço (o uso extraordinário das locações) e um tipo de atuação profundamente “marcado’ que torna todo o filme uma experiência ritualística. Não se pode “entender” ou “acompanhar”, apenas “mergulhar”. E para quem mergulha, é um mergulho sem volta. Ave Paradjanov!!
De Sergei Paradjanov
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Revi, devidamente acompanhado, este filme revolucionário do Paradjanov, e as palavras me faltam. Diria que é um dos filmes mais ousados da história do cinema (talvez rivalize apenas com Crônica de Anna Magdalena Bach). É o tipo de filme que cada plano esconde uma surpresa, que nunca conseguimos adivinhar qual será o próximo plano. Paradjanov foi preso e torturado por causa desse filme, e não é à toa, pois num regime centralizador como o russo, uma obra de arte anárquica como essa não poderia ser deixada incólume. Paradjanov tenta reproduzir o impacto da arte medieval, toda a tradição dos trovadores medievais, e da essência viva das origens da arte e do povo da Armênia remota, mas como isso é possível para o espectador de hoje? Então que Paradjanov cria um espetáculo arrebatador, um filme anticinematográfico, porque o cinema, por definição, como muito bem já colocou o Walter Benjamin, é uma arte pós-revolução industrial. Então só é possível falar das origens do povo e da arte armênio no cinema fazendo um cinema anticinematográfico. Essa é a missão de Paradjanov, que faz um filme absolutamente místico, imbuído de um senso de missão e devoção inacreditáveis, cuja energia é plenamente perceptível do primeiro ao último plano. É o tipo de filme que temos que assistir ajoelhados sobre o milho. Para Paradjanov, o cinema de poesia é um cinema de sensações, um cinema plástico, de sons, imagens, cores, formas e texturas. No entanto, seu sentido “antiquado” de mise-en-scene (toda a idéia da racionalização e da tridimensionalidade do espaço na arte é obviamente pós-renascimento e portanto pós-bizantina) não consegue apagar um profundo sentido de incorporação do espaço (o uso extraordinário das locações) e um tipo de atuação profundamente “marcado’ que torna todo o filme uma experiência ritualística. Não se pode “entender” ou “acompanhar”, apenas “mergulhar”. E para quem mergulha, é um mergulho sem volta. Ave Paradjanov!!
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