FILHAS DO VENTO
Filhas do Vento
De Joel Zito Araújo
Unibanco Arteplex, dom 18 setembro 2005 22hs
**
O que esperar de um primeiro filme, de um filme de estreante? Essa é uma pergunta (para mim) cada vez mais crucial, cada vez mais instigante, especialmente quando se pensa em cinema brasileiro, quando são poucos os diretores que têm a oportunidade de realizar um segundo filme. Joel Zito já tinha dirigido um longa-metragem, mas era um documentário, então que este é seu primeiro filme ficcional, onde ele precisa criar uma mise-en-scene e colocar em cena elementos estilísticos que podem ser mais complexos. E este Filhas do Vento, apesar de não ser um grande filme, convence exatamente por isso: por cumprir seu papel de um filme de estreante, em que, por trás da simplicidade e da modéstia de seus propósitos, apresenta um olhar em relação ao cinema e à vida, uma preocupação com a mise-en-scene, mostra uma espécie de declaração de princípios dos rumos que se pretende trilhar no cinema, ainda que estes precisem ser melhor desenvolvidos.
A principal virtude deste Filhas do Vento é a honestidade da encenação, é a simplicidade com que o diretor acalenta seus modestos personagens, respeita suas limitações mas sem deixar de apontar suas teimosias e resistências. Filhas do Vento é um filme sobre a possibilidade de reconciliação, ou ainda, sobre a possibilidade de convívio com a diferença. Isto é colocado de forma muito clara quando o primeiro plano do filme é o olhar que não se cruza entre as duas irmãs no enterro do pai. Os temas do filme se apresentam lá de forma clara: o papel do reencontro, o conflito de gerações, ou entre tradição e modernidade, a visão da diferença, o papel da família. A história do filme é a de duas irmãs bastante diferentes que se reencontram no enterro do pai. A primeira irmã é a representação da tradição: quer ficar ao lado do pai no interior; a segunda irmã, a da modernidade, ou da mudança, indo para a cidade grande, tornar-se uma atriz. Suas filhas então tem o caminho cruzado. Cada uma das duas filhas “puxou” mais o lado da tia do que da mãe. A filha da mãe da cidade grande quer ir para o interior. A filha da mãe do interior quer ser atriz como a tia. A partir desses caminhos cruzados, Joel Zito faz um filme bastante honesto. A decupagem é segura e bem cuidada; os atores (apesar de um estilo de interpretação que eu propriamente não compartilho) estão todos bem. Tem um grua na cena do enterro que absolutamente me encantou, porque é um 360º bem feito e sem um virtuosismo desnecessário (os diretores quando tem uma grua querem fazer movimentos só para mostrar que tem uma grua e não porque realmente precisem desse movimento de grua). Apesar de uma dramaturgia simples que em alguns momentos fica simplória, e alguns pressupostos que eu não compartilho, o saldo de Filhas do Vento é bem mais positivo e negativo, mostrando que Joel Zito cumpre a função do que se pode esperar de um diretor de um primeiro filme: mostra o que se espera do cinema e da vida.
De Joel Zito Araújo
Unibanco Arteplex, dom 18 setembro 2005 22hs
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O que esperar de um primeiro filme, de um filme de estreante? Essa é uma pergunta (para mim) cada vez mais crucial, cada vez mais instigante, especialmente quando se pensa em cinema brasileiro, quando são poucos os diretores que têm a oportunidade de realizar um segundo filme. Joel Zito já tinha dirigido um longa-metragem, mas era um documentário, então que este é seu primeiro filme ficcional, onde ele precisa criar uma mise-en-scene e colocar em cena elementos estilísticos que podem ser mais complexos. E este Filhas do Vento, apesar de não ser um grande filme, convence exatamente por isso: por cumprir seu papel de um filme de estreante, em que, por trás da simplicidade e da modéstia de seus propósitos, apresenta um olhar em relação ao cinema e à vida, uma preocupação com a mise-en-scene, mostra uma espécie de declaração de princípios dos rumos que se pretende trilhar no cinema, ainda que estes precisem ser melhor desenvolvidos.
A principal virtude deste Filhas do Vento é a honestidade da encenação, é a simplicidade com que o diretor acalenta seus modestos personagens, respeita suas limitações mas sem deixar de apontar suas teimosias e resistências. Filhas do Vento é um filme sobre a possibilidade de reconciliação, ou ainda, sobre a possibilidade de convívio com a diferença. Isto é colocado de forma muito clara quando o primeiro plano do filme é o olhar que não se cruza entre as duas irmãs no enterro do pai. Os temas do filme se apresentam lá de forma clara: o papel do reencontro, o conflito de gerações, ou entre tradição e modernidade, a visão da diferença, o papel da família. A história do filme é a de duas irmãs bastante diferentes que se reencontram no enterro do pai. A primeira irmã é a representação da tradição: quer ficar ao lado do pai no interior; a segunda irmã, a da modernidade, ou da mudança, indo para a cidade grande, tornar-se uma atriz. Suas filhas então tem o caminho cruzado. Cada uma das duas filhas “puxou” mais o lado da tia do que da mãe. A filha da mãe da cidade grande quer ir para o interior. A filha da mãe do interior quer ser atriz como a tia. A partir desses caminhos cruzados, Joel Zito faz um filme bastante honesto. A decupagem é segura e bem cuidada; os atores (apesar de um estilo de interpretação que eu propriamente não compartilho) estão todos bem. Tem um grua na cena do enterro que absolutamente me encantou, porque é um 360º bem feito e sem um virtuosismo desnecessário (os diretores quando tem uma grua querem fazer movimentos só para mostrar que tem uma grua e não porque realmente precisem desse movimento de grua). Apesar de uma dramaturgia simples que em alguns momentos fica simplória, e alguns pressupostos que eu não compartilho, o saldo de Filhas do Vento é bem mais positivo e negativo, mostrando que Joel Zito cumpre a função do que se pode esperar de um diretor de um primeiro filme: mostra o que se espera do cinema e da vida.
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