(FESTRIO) Batalha no Céu
Batalha no Céu
De Carlos Reygadas
Espaço Unibanco 2, sex 23 setembro
***
Após a repercussão de sua obra-prima de estréia, Japón, o segundo longa metragem do mexicano Carlos Reygadas é um trabalho em continuação com os principais temas de seu primeiro filme. A principal diferença é que enquanto Japón trabalha no universo de um pequeno vilarejo do interior, Batalha no Céu se passa na metrópole urbana. Mas o cinema de Reygadas usa o espaço como possibilidade de aprisionamento e ao mesmo tempo de imersão para seus personagens. O grande tema do cinema de Reygadas parece ser o questionamento de uma noção de beleza. O belo e o grotesco cruzam o cinema de Reygadas, mas ainda assim o diretor, de forma ambígua, busca apreender um certo sentido espiritual que escapa a seus personagens. Com isso, o diretor acaba povoando a tela de símbolos que nos remetem às origens étnicas do povo mexicano, com fortes ressonâncias míticas, poéticas e religiosas. Seu cinema, no entanto, escapa aos padrões de um “cinema de poesia”: é um cinema cru, duro, austero, muitas vezes provocativo, de difícil digestão, mas antes de tudo, trata-se de uma experiência, que o espectador leva consigo ao final da projeção. Sua missão é promover uma espécie de ascese, mas sempre pontuando os obstáculos, os sacrifícios e a asfixiante tarefa de viver. A contrapartida moral dos personagens de Reygadas, em busca da morte ou torturados por um grande complexo de culpa, é pontuada por um lado por um cinema suntuoso, em termos dos elementos de linguagem, com uma valorização do tempo e um trabalho de câmera que valoriza as gruas e os carrinhos; por outro, por um cinema cru, sujo, instintivo. Nesse equilíbrio precário, entre o belo e o grotesco, Reygadas faz um filme desesperado, uma jornada trágica e profundamente espiritual. Se Reygadas em Batalha no Céu mostra um caminho de continuidade em relação a Japón, por outro lado também mostra alguns sinais de desgaste dessa estilística. As principais virtudes e os principais defeitos de Japón também se encontram nesse trabalho, de modo que, ao seu final, Batalha no Céu confirma o talento de Reygadas mas por outro lado avança pouco em relação ao que já foi apresentado em seu filme anterior. Como segundo filme convence, especialmente por ter uma atmosfera e um clima extremamente particulares, pelo aspecto sombrio e perturbador da obra, mas deixa o espectador esperando pelo terceiro filme para confirmar se Reygadas ainda tem o que dizer ou se sua obra caminha para uma diluição típica da “síndrome do primeiro filme”.
De Carlos Reygadas
Espaço Unibanco 2, sex 23 setembro
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Após a repercussão de sua obra-prima de estréia, Japón, o segundo longa metragem do mexicano Carlos Reygadas é um trabalho em continuação com os principais temas de seu primeiro filme. A principal diferença é que enquanto Japón trabalha no universo de um pequeno vilarejo do interior, Batalha no Céu se passa na metrópole urbana. Mas o cinema de Reygadas usa o espaço como possibilidade de aprisionamento e ao mesmo tempo de imersão para seus personagens. O grande tema do cinema de Reygadas parece ser o questionamento de uma noção de beleza. O belo e o grotesco cruzam o cinema de Reygadas, mas ainda assim o diretor, de forma ambígua, busca apreender um certo sentido espiritual que escapa a seus personagens. Com isso, o diretor acaba povoando a tela de símbolos que nos remetem às origens étnicas do povo mexicano, com fortes ressonâncias míticas, poéticas e religiosas. Seu cinema, no entanto, escapa aos padrões de um “cinema de poesia”: é um cinema cru, duro, austero, muitas vezes provocativo, de difícil digestão, mas antes de tudo, trata-se de uma experiência, que o espectador leva consigo ao final da projeção. Sua missão é promover uma espécie de ascese, mas sempre pontuando os obstáculos, os sacrifícios e a asfixiante tarefa de viver. A contrapartida moral dos personagens de Reygadas, em busca da morte ou torturados por um grande complexo de culpa, é pontuada por um lado por um cinema suntuoso, em termos dos elementos de linguagem, com uma valorização do tempo e um trabalho de câmera que valoriza as gruas e os carrinhos; por outro, por um cinema cru, sujo, instintivo. Nesse equilíbrio precário, entre o belo e o grotesco, Reygadas faz um filme desesperado, uma jornada trágica e profundamente espiritual. Se Reygadas em Batalha no Céu mostra um caminho de continuidade em relação a Japón, por outro lado também mostra alguns sinais de desgaste dessa estilística. As principais virtudes e os principais defeitos de Japón também se encontram nesse trabalho, de modo que, ao seu final, Batalha no Céu confirma o talento de Reygadas mas por outro lado avança pouco em relação ao que já foi apresentado em seu filme anterior. Como segundo filme convence, especialmente por ter uma atmosfera e um clima extremamente particulares, pelo aspecto sombrio e perturbador da obra, mas deixa o espectador esperando pelo terceiro filme para confirmar se Reygadas ainda tem o que dizer ou se sua obra caminha para uma diluição típica da “síndrome do primeiro filme”.
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