Por um cinema didático – parte II
É impressionante como os dias passam e um filme simples como UM FILME FALADO não consegue nos sair da cabeça. É impressionante como é comovente o legado de Manoel de Oliveira, aos noventa e tantos anos, nos dizendo que é possível fazer uma obra absolutamente desconcertante e contemporânea com os recursos mais simples do cinema – o campo-contracampo, a câmera parada, a película 35mm.
Um Filme Falado é um filme sobre a História, sobre a civilização e sobre a civilidade. É também, evidentemente, um filme didático, já que uma professora de História e mãe conta para a filha-aluna o que é o mundo, o que são as coisas. É um filme sobre o conhecimento, ou ainda, sobre o desconhecimento do conhecimento, ou ainda, sobre como o conhecimento nos faz revelar milhares de desconhecimentos.
Daí que se torna um filme sobre a linguagem, sobre a oralidade, mas ainda mais, sobre a possibilidade de comunicação. Comunicação vista como contato entre diferentes culturas, ou ainda, como um contato com o outro.
Daí que se revela um filme sobre a tolerância, sobre a inevitabilidade da História, da civilização e da civilidade, da linguagem, da tolerância, do didatismo.
Um cinema didático. Um cinema que se mostra como menor para se revelar como grande. Um cinema que não precisa de cacoetes de estilo para sobreviver. Um estilo que nega o estilo, mas que também é ao mesmo tempo uma reação contra a invisibilidade do escudo defensivo do cinema clássico. A humildade de Manoel de Oliveira: só é possível dizer pouco, mas o quanto menos dizemos mais há para ser dito, ou ainda, o quanto há para ser dito ainda que digamos muito pouco!
Mas há que se fazer um epílogo não tão deslumbrado, é preciso ponderar. O desconcertante final de Um Filme Falado mostra o fim dos tempos, mostra a impossibilidade de Portugal existir como nação. Encurralado, ameaçado de extinção, o cinema de Manoel de Oliveira se rende à falta de pressa de abandonar a lendária embarcação (é extraordinária a seqüência em que se mostra a menina e a mãe caminhando cômodo por cômodo da embarcação para buscar a boneca), se rende à necessidade de voltar para resgatar uma boneca muçulmana, se rende à negação do “salve-se-quem-puder”. Rende-se ainda aos rumos dos “novos tempos”, com grande sabedoria.
Um Filme Falado é um filme sobre a vida, sobre a História, sobre a civilização, sobre a linguagem, sobre o cinema. Num plano de um cachorro amarrado a um navio, num plano de uma grande placa de metal, Manoel de Oliveira consegue fazer uma humilde e profunda declaração de amor ao seu ofício, um voto de fé em relação à sua linguagem em particular. Nesses breves momentos é que acreditamos que o cinema pode ser uma obra de arte, e que um diretor de cinema pode ser chamado de um artista.
Um Filme Falado é um filme sobre a História, sobre a civilização e sobre a civilidade. É também, evidentemente, um filme didático, já que uma professora de História e mãe conta para a filha-aluna o que é o mundo, o que são as coisas. É um filme sobre o conhecimento, ou ainda, sobre o desconhecimento do conhecimento, ou ainda, sobre como o conhecimento nos faz revelar milhares de desconhecimentos.
Daí que se torna um filme sobre a linguagem, sobre a oralidade, mas ainda mais, sobre a possibilidade de comunicação. Comunicação vista como contato entre diferentes culturas, ou ainda, como um contato com o outro.
Daí que se revela um filme sobre a tolerância, sobre a inevitabilidade da História, da civilização e da civilidade, da linguagem, da tolerância, do didatismo.
Um cinema didático. Um cinema que se mostra como menor para se revelar como grande. Um cinema que não precisa de cacoetes de estilo para sobreviver. Um estilo que nega o estilo, mas que também é ao mesmo tempo uma reação contra a invisibilidade do escudo defensivo do cinema clássico. A humildade de Manoel de Oliveira: só é possível dizer pouco, mas o quanto menos dizemos mais há para ser dito, ou ainda, o quanto há para ser dito ainda que digamos muito pouco!
Mas há que se fazer um epílogo não tão deslumbrado, é preciso ponderar. O desconcertante final de Um Filme Falado mostra o fim dos tempos, mostra a impossibilidade de Portugal existir como nação. Encurralado, ameaçado de extinção, o cinema de Manoel de Oliveira se rende à falta de pressa de abandonar a lendária embarcação (é extraordinária a seqüência em que se mostra a menina e a mãe caminhando cômodo por cômodo da embarcação para buscar a boneca), se rende à necessidade de voltar para resgatar uma boneca muçulmana, se rende à negação do “salve-se-quem-puder”. Rende-se ainda aos rumos dos “novos tempos”, com grande sabedoria.
Um Filme Falado é um filme sobre a vida, sobre a História, sobre a civilização, sobre a linguagem, sobre o cinema. Num plano de um cachorro amarrado a um navio, num plano de uma grande placa de metal, Manoel de Oliveira consegue fazer uma humilde e profunda declaração de amor ao seu ofício, um voto de fé em relação à sua linguagem em particular. Nesses breves momentos é que acreditamos que o cinema pode ser uma obra de arte, e que um diretor de cinema pode ser chamado de um artista.
Comentários
Olha, vejo tantas pessoas "lutarem" por um cinema novo que quebre todos os "dogmas" do cinema clássico... e daí inventam um monte de maneiras novas de filmar.. (e isso tudo é válido, é criatividade, é desenvolvimento)...
porém, acho que não tem nada a ver depreciar o cinema clássico.
Eu sou liberal, mas em relação à cinema, tenho uma quedinha pelo clássico. Pelo plano, contraplano... pela câmera parada... pelo 35 mm....
Abs..
E pensar que esse filme QUASE nem chega a entrar em cartaz. Só entrou em cartaz por causa da inaugração do Unibanco Arteplex. E os outros filmes recentes do Manoel de Oliveira que não chegaram a estrear por aqui?????????