Melinda e Melinda

Melinda e Melinda
De Woody Allen
São Luiz 4, seg 20 junho 15hs


Bom, hoje no meu último dia de férias fiz a coisa que me dá mais prazer no mundo: ver um filme no cinema durante a semana à tarde. Aquele cinema vazio, ninguém para encher o saco... ai, são nesses breves momentos que a gente acha que a vida vale a pena ser vivida. Depois ainda passei no árabe do Largo do Machado para comer uma tradicional esfirra com suco de melancia...

Fui ver então Melinda e Melinda. Sempre vou ver os filmes do Woody Allen, e gosto desses seus últimos filmes, tipo O Escorpião de Jade e Dirigindo no Escuro, porque são obras de um diretor na maturidade. Allen faz um cinema discreto, mas sem dúvida ele tem um olhar para o seu ofício e um olhar sobre a vida, então seus filmes sempre nos trazem algo de novo, algo que nos ilumina. Seus últimos trabalhos são um tanto sombrios, eles refletem de uma certa forma uma espécie de encruzilhada a que Allen chegou sobre uma suposta invisibilidade de suas obras. Allen faz o cinema que quer fazer, sem se preocupar em fazer grandes filmes ou coisa do tipo. Eu gosto disso.

Mas enfim, Melinda e Melinda não é nada disso. É um filme simples, um dos mais simples do diretor, baseado numa idéia simples: a vida é tanto tragédia quanto comédia, depende do ponto de vista. Há elementos trágicos na comédia e elementos cômicos na tragédia, passa a ser simplesmente como nos posicionamos em relação a determinada coisa. O filme então conta praticamente a mesma história duas vezes, uma com um perfil trágico, outra com perfil cômico, mas há nuanças que nos fazem perceber os pontos cômicos da parte trágica, e os pontos trágicos na parte cômica.

Só que como Allen quer dizer que as duas histórias na verdade são a mesma, ele então resolve adotar o mesmo estilo para contar as duas histórias, então o filme perde a sua graça e o seu frescor, principalmente na encenação, bastante básica. Sim, os filmes de Allen quase todos são assim, mas neste, nada passa a interessar a Allen a não ser o texto e os atores. De modo que desta vez esse academicismo me incomodou, e o filme fica preso, não consegue decolar, até porque a parte trágica parece um telefilme, é fraca, sem ser muito convincente.

Claro que Allen faz uma breve reflexão sobre uma idéia de artifício, e como a vida é fagueira. O filme é na verdade uma versão dupla de uma história que está sendo contada num restaurante, então tem um lado metalinguístico. Mas o problema é que depois de vinte minutos já entendemos o mote, e todo o filme passa a desenvolver burocraticamente essa idéia, sem nos fazer particularmente torcer ou nos envolver por qualquer um dos lados. O filme tem um ou outro interesse, como a ótima atuação da atriz que faz o papel duplo de Melinda (esqueci o nome), e como o filme trata de forma interessante a questão racial. Mas a parte trágica não convence, e na parte cômica os atores são muito careteiros. Outra coisa: há muito tempo eu não via um filme do Woody Allen tão mal fotografado. Ou seja, no final fica a sensação de ser um filme menor do diretor, menos inspirado tanto no estilo quanto no texto.

Comentários

Postagens mais visitadas