E depois?
Depois do primeiro festival, de toda a correria para ver os filmes, curtir a repercussão de O POSTO, e finalizar a tempo o EM CASA, vem a ressaca do dia seguinte. Um cansaço muito grande, uma certa melancolia, uma sensação do “valeu a pena?”, ou ainda do “o que fazer agora?”.
O melhor comentário sobre meus filmes veio do Guilherme Tristão. Foi sobre o Auto-Retrato, que ele considerou um filme muito triste, apesar de ser uma comédia. “Depois de arrumar toda a casa, lá naquela cena do banheiro, a gente fica pensando: ‘e agora?’, ‘o que fazer depois disso tudo?’”. Sem dúvida, respondi eu. Para não enlouquecer, agora a gente faz o próximo filme, não é?
* * *
E o que ficou desse Festival Universitário em relação aos filmes? Pouca coisa. Tiveram até bons filmes, mas trabalhos que não vão muito na direção do que eu acho que deva ser um curta, ou ainda do que eu espero do cinema, e meu pensamento acaba involuntariamente se contaminando com essa expectativa. Na verdade, ficou um vídeo: o belíssimo “O Chapéu do Meu Avô”, e trechos de trabalhos como “Trânsito por Dora” ou “Homens Pequenos”.
E O POSTO? Cheguei à conclusão de que O POSTO não é um trabalho que favoreça sua apreciação em festivais. Porque é um trabalho de risco, um trabalho de pôr-se à prova, um trabalho de elaboração não muito elementar. Trabalhos mais simples acabam tendo sua recepção facilitada: são mais fechadinhos, e mais “perfeitos”. O POSTO é um filme imperfeito, repleto de algumas imperfeições (especialmente técnicas) mas é exatamente isto o que busquei nesse projeto: que não fosse um projeto covarde, ou defensivo, que eu não usasse apenas os instrumentos que domino, mas que fosse um trabalho de “colocar-se à prova como cineasta”, um trabalho de execução das ferramentas do cinema, um trabalho (nesse sentido) um pouco mais ambicioso. Mas que por isso evidentemente, dadas as condições de produção, acaba escapando um pouco às vezes. Mas o curta é isso, é um trabalho de descoberta e aprendizado. Por isso sou muito avesso a experiências como um “Noturno” ou “Quando Tudo Formiga” (dois bons filmes mas que me irritam), porque se parte do que já se sabe para se chegar nisso mesmo, como se fosse um cão correndo atrás do próprio rabo. O POSTO é um trabalho para o médio prazo: um trabalho que coloca questões, que sem dúvida apresenta um olhar em relação ao cinema e em relação à sua própria construção. Mas não é um trabalho redondinho, certinho, executadinho, todos os “inhos” tão próprios aos Festivais. Ainda assim, a recepção das pessoas foi muito boa, o que me alegrou, e abriu uma série de perspectivas para mim deste trabalho, e – é claro – das minhas possibilidades em me considerar um diretor de cinema. Mas daí a ganhar um prêmio num festival.... hmmmm.... acho que está cada vez mais difícil. Acho que o filme será muito mais “não selecionado” do que “selecionado”. Mas às vezes o importante é a qualidade, porque é um produto esmerado: passar pouco mas passar bem. E convenhamos: não se deve perder muita energia pensando nos festivais.
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O melhor comentário sobre meus filmes veio do Guilherme Tristão. Foi sobre o Auto-Retrato, que ele considerou um filme muito triste, apesar de ser uma comédia. “Depois de arrumar toda a casa, lá naquela cena do banheiro, a gente fica pensando: ‘e agora?’, ‘o que fazer depois disso tudo?’”. Sem dúvida, respondi eu. Para não enlouquecer, agora a gente faz o próximo filme, não é?
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E o que ficou desse Festival Universitário em relação aos filmes? Pouca coisa. Tiveram até bons filmes, mas trabalhos que não vão muito na direção do que eu acho que deva ser um curta, ou ainda do que eu espero do cinema, e meu pensamento acaba involuntariamente se contaminando com essa expectativa. Na verdade, ficou um vídeo: o belíssimo “O Chapéu do Meu Avô”, e trechos de trabalhos como “Trânsito por Dora” ou “Homens Pequenos”.
E O POSTO? Cheguei à conclusão de que O POSTO não é um trabalho que favoreça sua apreciação em festivais. Porque é um trabalho de risco, um trabalho de pôr-se à prova, um trabalho de elaboração não muito elementar. Trabalhos mais simples acabam tendo sua recepção facilitada: são mais fechadinhos, e mais “perfeitos”. O POSTO é um filme imperfeito, repleto de algumas imperfeições (especialmente técnicas) mas é exatamente isto o que busquei nesse projeto: que não fosse um projeto covarde, ou defensivo, que eu não usasse apenas os instrumentos que domino, mas que fosse um trabalho de “colocar-se à prova como cineasta”, um trabalho de execução das ferramentas do cinema, um trabalho (nesse sentido) um pouco mais ambicioso. Mas que por isso evidentemente, dadas as condições de produção, acaba escapando um pouco às vezes. Mas o curta é isso, é um trabalho de descoberta e aprendizado. Por isso sou muito avesso a experiências como um “Noturno” ou “Quando Tudo Formiga” (dois bons filmes mas que me irritam), porque se parte do que já se sabe para se chegar nisso mesmo, como se fosse um cão correndo atrás do próprio rabo. O POSTO é um trabalho para o médio prazo: um trabalho que coloca questões, que sem dúvida apresenta um olhar em relação ao cinema e em relação à sua própria construção. Mas não é um trabalho redondinho, certinho, executadinho, todos os “inhos” tão próprios aos Festivais. Ainda assim, a recepção das pessoas foi muito boa, o que me alegrou, e abriu uma série de perspectivas para mim deste trabalho, e – é claro – das minhas possibilidades em me considerar um diretor de cinema. Mas daí a ganhar um prêmio num festival.... hmmmm.... acho que está cada vez mais difícil. Acho que o filme será muito mais “não selecionado” do que “selecionado”. Mas às vezes o importante é a qualidade, porque é um produto esmerado: passar pouco mas passar bem. E convenhamos: não se deve perder muita energia pensando nos festivais.
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A sessão do EM CASA passou despercebida como o filme. Mas a sessão numa sala de cinema me deu mais convicção da força desse trabalho. É um trabalho de enorme rigor, de grande força conceitual, um cinema de arquitetura, um trabalho de construção arquitetônica. No cinema, pude ver a influência de Straub. Senti tbem que, em diversas medidas, o EM CASA é uma espécie de síntese das coisas que venho trabalhando, pouco a pouco, com grande afinco, no cinema: a construção de um olhar, um cinema de decupagem rigoroso, uma dificuldade de expressar os sentimentos, uma relação de intimidade e distanciamento da câmera com os objetos, um sentido de melancolia e solidão, um cinema de imersão, de conotações metafísicas mesmo sendo de base materialista. Senti no cinema que assistir ao EM CASA é embarcar numa espécie de transe: depois dos primeiros 25 minutos, quem embarca na “regra do jogo”, mergulha num outro universo de suspensão do tempo e do espaço. Sinto ser um trabalho muito corajoso, e um trabalho de fortíssimo conteúdo religioso, espiritual. Fiquei muito contente com o trabalho de som, muito importante para o filme. Fazer esse filme abriu para mim muitas perspectivas conceituais: representa uma síntese radical, elevada a algumas potências, dos meus trabalhos mais pessoais.
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