cannes
A cobertura mais importante do Festival de Cannes é sem dúvida a do Eduardo Valente para o povo do Contra. O site dá margem a textos mais longos e mais pessoais, num tipo de cobertura que seria impossível dentro de um jornal impresso. A paixão com que Valente impregna o texto, e, mais do que isso, o tom pessoal em que se escreve, e a relação de intimidade que se desenvolve, passo a passo, com o leitor, é, ainda mais para mim, muito tocantes e comoventes. A visão distanciada de Valente sobre o deslumbramento do glamour em Cannes é colocada de uma forma muito exata. Ainda assim, o texto coloca uma série de características pessoais do autor que, para quem o conhece pessoalmente, não chega a ser novidade: uma certa auto-recorrência, um tom meio auto-bajulatório, uma informalidade forçada, um texto que muitas vezes se esquiva do filme para o em torno de forma dispersa. Ou seja, muitas vezes, Valente nos seduz (ele é de fato muito sedutor) mas não raras vezes o texto revela uma outra face do autor. A parte que Valente fala sobre os filmes brasileiros no Festival é típica da parte que menos admiro em seu texto, em sua forma de escrever, em sua forma de lidar com as coisas, enfim. É aquela coisa: quem muito se justifica é porque deve (“deve” no sentido de dívida). A parte com que fala sobre a “honestidade” é uma espécie de elogio à omissão, com a qual evidentemente não posso compartilhar.
Comentários
agora, dizer que é omissão é fácil desde que se ignore os motivos ali dados. me omito sim de colocar qualquer coisa antes das minhas amizades. não me omito, porém, pra fazer política e subir na vida.
e mais: eu me omito, não a revista. isso é que importa.
querer ler outra coisa é querer ler outra coisa. mas, quando vc se expõe, é pra ser lido como for, sempre. isso em si, já é corajoso.
prefiro que vc critique meus escritos e filmes (só fiquei triste com a "informalidade forçada" - porque forçada?) do que minha pessoa, mas aí a opção tb é sua. as obras são mais interessantes que quem as produz, sempre.
um abraço
e lembrar que aquele texto tinha as leituras já embutidas nele:
"Fiz este terceiro caminho que certamente ocupou mais o meu tempo - e pode dar margens às leituras que for - mas me pareceu o único correto a fazer."
confesso que fui surpreendido por esse comment. Nunca imaginaria ou esperaria ter-lhe como leitor desse modesto blog, feito apenas para os amigos, ou para aqueles que enfim tem algum interesse pelo que escrevo. Sua presença aqui em muito me honra, e aumenta minha "responsabilidade" para com os meus textos (se bem que com esse blog busco justamente a irresponsabilidade da escrita). Isso se você por iniciativa própria for leitor eventual do blog. ou seja, e não por algum veneno de seus amigos de vida lhe tenham levado para cá...