Pinga na minha cabeça
O teto da sala está coberto de rachaduras
Já chamei o bombeiro mas ele anda ocupado
Com outros serviços
Ele cobra caro porque o serviço é urgente
Tem que ser em cash e não aceita cartão
Ainda tem gente no mundo que não tem conta no Itaú
Enquanto isso a gota pinga
Eu não tenho dinheiro
E ele não tem tempo nem paciência
O prédio tem oito blocos, doze andares
Quatro apartamentos por andar
O condomínio é bastante caro
Talvez a culpa seja da vizinha de cima
Mas ela está de viagem e não pode resolver
Dizem que foi ver uns parentes em Olinda
Enquanto isso a gota pinga
Comprei mais dois baldes e seis panos de chão
O estranho é que é só na sala
E não posso mais receber visitas
Estou cansado de dar desculpas
e não deixar ninguém entrar!
À noite faz um barulhinho chato
Que às vezes não me deixa dormir
Mesmo que eu pense que é um sininho japonês
Enquanto isso a gota pinga
O prédio de frente tem um bombeiro barateiro
A escada é muito baixa, não alcança o teto
O síndico sempre me olha como se fizesse um favor
Os sapatos dele são surrados e a meia é sempre cinza
O bombeiro de frente disse que pode ir pros outros cômodos
Quis fazer uma obra completa
Só que trocar toda a estrutura custa uma grana
Enquanto isso a gota pinga
Pinga na minha cabeça
Pingo com a gota
Não posso mais assistir a novela na sala
Porque tenho medo da minha TV pifar
No banheiro começou a pingar
As gotas são grossas
É melhor eu não tomar mais banho pra não piorar
Enquanto isso a gota pinga
Não saio mais do quarto
Não deixo ninguém mais entrar
A campainha toca toca
E às vezes eu vejo mas são só as gotas que pingam
Não quero mais me molhar
As gotas são sujas, vêm do esgoto
podem me dar doenças de pele horríveis
Enquanto isso a gota pinga
Todo o lugar pinga, pinga, pinga
Acho que hoje o bombeiro não vem mais
O quarto está sujo de poeira e umidade
Mas a vassoura está longe na cozinha, cheia de pingos
A gota pinga
Pingo com a gota
Não consigo parar mais de pingar
Quando mijo tenho nojo de mim
Não consigo mais me mover
A campainha toca e não consigo mais atender
Mesmo que ouça os gritos do bombeiro
Eu tiraria todo o dinheiro do banco para resolver logo isso
Então comecei a chorar
E dos meus olhos caíram gotas
E as gotas pingaram em mim
Tocaram meu rosto, minhas pálpebras, minhas mãos
Meu rosto, meu corpo, meu sexo
Meus pés
Lavaram a casa, transbordaram os ralos
Passaram por baixo das frestas das portas
Derrubaram os baldes
Limparam as pichações das paredes, o resto de gordura das panelas
Escancararam as portas, inundaram as escadas e os corredores
E então me vi como um peixe
Nadando entre minhas gotas
Entre minhas lágrimas, minhas rachaduras
Meus baldes, minhas pichações, minhas portas e panelas
E bebi da água
O gosto era azedinho mas não me fez mal
Então foi que bebi mais um pouco
E deslizei flanando abaixo pelos corredores
O bombeiro e o síndico me olharam com espanto
Passei pelas ruas, pelas lojas envidraçadas
Provoquei o maior engarrafamento perto da São Clemente
E só fui parar num riacho lá bem longe de tudo
Onde tudo era mato
E só lá é que pude descansar
E quando parei de chorar
O sol secou minhas lágrimas
A corrente espichou, a correnteza desceu, o céu se acalmou
Tudo voltou ao normal
E fiquei ali sentadinho, nu,
Olhando para o que restou da minha vida
O teto da sala está coberto de rachaduras
Já chamei o bombeiro mas ele anda ocupado
Com outros serviços
Ele cobra caro porque o serviço é urgente
Tem que ser em cash e não aceita cartão
Ainda tem gente no mundo que não tem conta no Itaú
Enquanto isso a gota pinga
Eu não tenho dinheiro
E ele não tem tempo nem paciência
O prédio tem oito blocos, doze andares
Quatro apartamentos por andar
O condomínio é bastante caro
Talvez a culpa seja da vizinha de cima
Mas ela está de viagem e não pode resolver
Dizem que foi ver uns parentes em Olinda
Enquanto isso a gota pinga
Comprei mais dois baldes e seis panos de chão
O estranho é que é só na sala
E não posso mais receber visitas
Estou cansado de dar desculpas
e não deixar ninguém entrar!
À noite faz um barulhinho chato
Que às vezes não me deixa dormir
Mesmo que eu pense que é um sininho japonês
Enquanto isso a gota pinga
O prédio de frente tem um bombeiro barateiro
A escada é muito baixa, não alcança o teto
O síndico sempre me olha como se fizesse um favor
Os sapatos dele são surrados e a meia é sempre cinza
O bombeiro de frente disse que pode ir pros outros cômodos
Quis fazer uma obra completa
Só que trocar toda a estrutura custa uma grana
Enquanto isso a gota pinga
Pinga na minha cabeça
Pingo com a gota
Não posso mais assistir a novela na sala
Porque tenho medo da minha TV pifar
No banheiro começou a pingar
As gotas são grossas
É melhor eu não tomar mais banho pra não piorar
Enquanto isso a gota pinga
Não saio mais do quarto
Não deixo ninguém mais entrar
A campainha toca toca
E às vezes eu vejo mas são só as gotas que pingam
Não quero mais me molhar
As gotas são sujas, vêm do esgoto
podem me dar doenças de pele horríveis
Enquanto isso a gota pinga
Todo o lugar pinga, pinga, pinga
Acho que hoje o bombeiro não vem mais
O quarto está sujo de poeira e umidade
Mas a vassoura está longe na cozinha, cheia de pingos
A gota pinga
Pingo com a gota
Não consigo parar mais de pingar
Quando mijo tenho nojo de mim
Não consigo mais me mover
A campainha toca e não consigo mais atender
Mesmo que ouça os gritos do bombeiro
Eu tiraria todo o dinheiro do banco para resolver logo isso
Então comecei a chorar
E dos meus olhos caíram gotas
E as gotas pingaram em mim
Tocaram meu rosto, minhas pálpebras, minhas mãos
Meu rosto, meu corpo, meu sexo
Meus pés
Lavaram a casa, transbordaram os ralos
Passaram por baixo das frestas das portas
Derrubaram os baldes
Limparam as pichações das paredes, o resto de gordura das panelas
Escancararam as portas, inundaram as escadas e os corredores
E então me vi como um peixe
Nadando entre minhas gotas
Entre minhas lágrimas, minhas rachaduras
Meus baldes, minhas pichações, minhas portas e panelas
E bebi da água
O gosto era azedinho mas não me fez mal
Então foi que bebi mais um pouco
E deslizei flanando abaixo pelos corredores
O bombeiro e o síndico me olharam com espanto
Passei pelas ruas, pelas lojas envidraçadas
Provoquei o maior engarrafamento perto da São Clemente
E só fui parar num riacho lá bem longe de tudo
Onde tudo era mato
E só lá é que pude descansar
E quando parei de chorar
O sol secou minhas lágrimas
A corrente espichou, a correnteza desceu, o céu se acalmou
Tudo voltou ao normal
E fiquei ali sentadinho, nu,
Olhando para o que restou da minha vida
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ricardo