Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída
Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída
de Uli Edel
DVD sab 28 março 23hs
**½
Fui assistir a Christiane F., sem nenhum interesse ou entusiasmo, só porque um cara aqui do meu trabalho encheu o meu saco para ver. Mas com um único fotograma todos os meus preconceitos se dissiparam: o saldo foi imensamente positivo. É o tipo de filme que se eu tivesse visto na época do Não Amarás, com certeza teria um efeito devastador em mim. Foi um filme que me fez transportar de volta para minha “fase alemã” onde eu achava que a vida é pura miserabilidade. O filme me espantou pelo retrato cru de uma juventude, e especialmente pela forma como o filme encena esse retrato. O filme é todo escuro, é muito escuro, de baixo orçamento, aproveitando de forma muito criativa as locações ( o metrô, as ruas, os banheiros públicos, a boate, etc.). É incrível como o espaço físico interage com os personagens. É um cinema pouco didático no sentido de apresentar a história, o que se pretende é um mergulho num sentimento de vida, ou melhor, numa ausência profunda. Isto é, ao invés de dar motivações, justificativas, ou – o que seria pior – de ser uma denúncia sobre um tipo de sociedade, ou sobre uma “sociedade careta”, o filme simplesmente mostram jovens sendo. É um cinema fenomenológico. Eles não sentem prazer ou coisa do tipo consumindo droga: eles apenas a consumem por uma necessidade intrínseca de ser, pelo desejo por um tipo de sentimento, por uma inserção em um mundo. Por isso até, o filme é bastante sinistro, sombrio, os personagens sem maquiagem, o clima diretamente expressionista, os pais cagando pros filhos (i.e os filhos têm que se virar, eles têm que tomar as decisões por eles mesmos). Angustiante, sobre o papel do destino, o filme é baseado numa relação de amor e amizade muito profunda, e isso é muito instigante. Pois se o filme é sobre drogas, sobre o lado sinistro da vida, ele tbem é calcado numa necessidade profunda de amor e de compreensão. Ora, os dois personagens são anjos caídos, pervertidos pelo destino, que os suga para a auto-destruição. O filme se arrasta demais, e nos últimos vinte e cinco minutos perde o vigor, quase cai no melodrama (o que no fundo ele é), mas o filme todo é muito seco, é extremamente alemão. A vida é muito miserável, e as pessoas, mesmo querendo se ajudar, se destroem, porque o destino é assim. Gostei MUITO, mas MUITO mais desse filme do que as bobagens tipo Trainspotting ou Drugstore Cowboy. Não há ingenuidade, todos sabem o que estão fazendo. Tbem não tem aquelas tão irritantes câmeras subjetivas que mostram os “delírios” dos drogados (ah como eu odeio esse tipo de coisa). Ou seja, o filme trata os personagens não como “drogados” mas como pessoas: é de uma profunda humanidade, e de um profundo respeito com esses personagens (não tratando como vítimas, ou não procurando dar respostinhas simples prontas, etc, etc). Um filme para ser visto.
de Uli Edel
DVD sab 28 março 23hs
**½
Fui assistir a Christiane F., sem nenhum interesse ou entusiasmo, só porque um cara aqui do meu trabalho encheu o meu saco para ver. Mas com um único fotograma todos os meus preconceitos se dissiparam: o saldo foi imensamente positivo. É o tipo de filme que se eu tivesse visto na época do Não Amarás, com certeza teria um efeito devastador em mim. Foi um filme que me fez transportar de volta para minha “fase alemã” onde eu achava que a vida é pura miserabilidade. O filme me espantou pelo retrato cru de uma juventude, e especialmente pela forma como o filme encena esse retrato. O filme é todo escuro, é muito escuro, de baixo orçamento, aproveitando de forma muito criativa as locações ( o metrô, as ruas, os banheiros públicos, a boate, etc.). É incrível como o espaço físico interage com os personagens. É um cinema pouco didático no sentido de apresentar a história, o que se pretende é um mergulho num sentimento de vida, ou melhor, numa ausência profunda. Isto é, ao invés de dar motivações, justificativas, ou – o que seria pior – de ser uma denúncia sobre um tipo de sociedade, ou sobre uma “sociedade careta”, o filme simplesmente mostram jovens sendo. É um cinema fenomenológico. Eles não sentem prazer ou coisa do tipo consumindo droga: eles apenas a consumem por uma necessidade intrínseca de ser, pelo desejo por um tipo de sentimento, por uma inserção em um mundo. Por isso até, o filme é bastante sinistro, sombrio, os personagens sem maquiagem, o clima diretamente expressionista, os pais cagando pros filhos (i.e os filhos têm que se virar, eles têm que tomar as decisões por eles mesmos). Angustiante, sobre o papel do destino, o filme é baseado numa relação de amor e amizade muito profunda, e isso é muito instigante. Pois se o filme é sobre drogas, sobre o lado sinistro da vida, ele tbem é calcado numa necessidade profunda de amor e de compreensão. Ora, os dois personagens são anjos caídos, pervertidos pelo destino, que os suga para a auto-destruição. O filme se arrasta demais, e nos últimos vinte e cinco minutos perde o vigor, quase cai no melodrama (o que no fundo ele é), mas o filme todo é muito seco, é extremamente alemão. A vida é muito miserável, e as pessoas, mesmo querendo se ajudar, se destroem, porque o destino é assim. Gostei MUITO, mas MUITO mais desse filme do que as bobagens tipo Trainspotting ou Drugstore Cowboy. Não há ingenuidade, todos sabem o que estão fazendo. Tbem não tem aquelas tão irritantes câmeras subjetivas que mostram os “delírios” dos drogados (ah como eu odeio esse tipo de coisa). Ou seja, o filme trata os personagens não como “drogados” mas como pessoas: é de uma profunda humanidade, e de um profundo respeito com esses personagens (não tratando como vítimas, ou não procurando dar respostinhas simples prontas, etc, etc). Um filme para ser visto.
Comentários
Estava passando por aqui após descobri o nome certo do seu blog e adorei essa crítica... Gosto muito desse filme...
mas, li o livro e fikei
simplesmente encantada com
a história.
espero q possa assistir
logo estou muito ansiosa!