O cinema do rancor e um pequeno antídoto
Acabei de voltar de Sampa. Fiquei por lá só um dia e meio, mas já deu pra sentir um fiapo do clima da cidade, andando de metrô e caminhando pelas ruas. E rapidamente deu pra entender porque só São Paulo poderia fazer três filmes (e ainda de estreantes) como Cama de Gato, Contra Todos e Nina, que são filmes absolutamente sinistros e perturbadores sobre a natureza humana, três filmes que dão uma reposta completamente negativa em relação ao papel da arte/do cinema, e mais sobre o papel do indivíduo no mundo de hoje.
Eu tenho uma tese de que o cinema paulista vem desenvolvendo uma linhagem que eu chamo do “cinema do rancor”: a não-inserção, a desigualdade social, o caos urbano têm estimulado nos cineastas um desejo pela aversão, um impulso do nojo, especialmente quanto às relações humanas, vistas como destrutivas, perversas, mesquinhas, negativas.
E – no fundo é isso que eu quero falar – isso me deixou ainda mais impressionado em relação a um pequeno curta paulista que vai na contramão desse cinema. É o Noite de Sol, da Marcela Arantes. É um trabalho bastante simples, mas que tem uma grande virtude: uma observação do relacionamento humano baseado num trabalho de economia de expressão.
O tema de Noite de Sol é a família. Mas a contribuição do curta em contraposição a um cinema paulista é inserir a possibilidade da generosidade e do afeto, ou ainda, o que é mais essencial, a possibilidade do reencontro, de uma reaproximação. De gerações diferentes, de temperamentos diferentes, de gostos diferentes, pai e filha não se falam, mal se olham. As coisas mudam exatamente a partir de uma distância física – a filha viaja para o Nordeste, mesmo sem a aprovação do pai. Quando pai e filha estão distantes, talvez pela primeira vez entre ambos exista espaço para uma proximidade. Dessa forma, dentro das possibilidades de um primeiro curta, de um trabalho universitário, a diretora expõe algumas das suas potencialidades, faz um pequeno inventário do que se busca no cinema, e qual sua possível contribuição dentro do cenário específico em que está inserida. E por isso mesmo esse simples trabalho se revela comovente, sensível, honesto, e bem mais observador e contundente sobre sua realidade e sobre um cinema brasileiro do que inicialmente poderia se imaginar.
Eu tenho uma tese de que o cinema paulista vem desenvolvendo uma linhagem que eu chamo do “cinema do rancor”: a não-inserção, a desigualdade social, o caos urbano têm estimulado nos cineastas um desejo pela aversão, um impulso do nojo, especialmente quanto às relações humanas, vistas como destrutivas, perversas, mesquinhas, negativas.
E – no fundo é isso que eu quero falar – isso me deixou ainda mais impressionado em relação a um pequeno curta paulista que vai na contramão desse cinema. É o Noite de Sol, da Marcela Arantes. É um trabalho bastante simples, mas que tem uma grande virtude: uma observação do relacionamento humano baseado num trabalho de economia de expressão.
O tema de Noite de Sol é a família. Mas a contribuição do curta em contraposição a um cinema paulista é inserir a possibilidade da generosidade e do afeto, ou ainda, o que é mais essencial, a possibilidade do reencontro, de uma reaproximação. De gerações diferentes, de temperamentos diferentes, de gostos diferentes, pai e filha não se falam, mal se olham. As coisas mudam exatamente a partir de uma distância física – a filha viaja para o Nordeste, mesmo sem a aprovação do pai. Quando pai e filha estão distantes, talvez pela primeira vez entre ambos exista espaço para uma proximidade. Dessa forma, dentro das possibilidades de um primeiro curta, de um trabalho universitário, a diretora expõe algumas das suas potencialidades, faz um pequeno inventário do que se busca no cinema, e qual sua possível contribuição dentro do cenário específico em que está inserida. E por isso mesmo esse simples trabalho se revela comovente, sensível, honesto, e bem mais observador e contundente sobre sua realidade e sobre um cinema brasileiro do que inicialmente poderia se imaginar.
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