O Branco em Filme
Dias em Branco
de Irmãos Pretti
DVD, 9/12
Há um filme do Arthur Omar chamado Congo, que ele próprio denominou como “um filme em branco”. Em branco, pois o que podemos saber sobre os congos, o que um documentário pode nos fornecer de informação sobre uma manifestação cultural de nós tão distante, quase perdida?
“Dias em Branco” parte mais ou menos da mesma premissa: é um filme em branco. Mas há uma pequena diferença, sutil, mas que faz toda a diferença: um dia “em branco” é muito diferente de um “não-dia”. O “em branco” é sinal de construção. “Não sei o que fazer. Fico o dia todo olhando para a parede branca de meu quarto. Eu poderia filmar essa parece, já que a conheço bem.”. Ou seja, i) a parede em branco significa que existe uma parede; ii) a parede não é motivo simplesmente de paralisia, mas motiva a ação de filmar essa parede.
A partir desse dado simples, os i. pretti desenvolveram um trabalho em continuidade com todos os seus temas (a solidão, o rigor da estrutura, os tempos mortos, a duração) mas absolutamente transformador. Através de uma narrativa paralela mas que não necessariamente se cruza, Dias em Branco é um retrato íntimo de um deslocamento mas sem esbarrar na psicologia ou nas motivações de personagens. Acima de tudo, as pessoas são (isto é, antes de ser branca, a parede existe). Por isso, por trás de um cinema de inércia, da imobilidade e do desconsolo, existe um desejo que pulsa abaixo da superfície, um cinema que busca um caminho de construção por trás do cansaço. Existe uma comunhão implícita entre os personagens, mesmo que eles não se encontrem. Uma proposta de cinema moderna, que tangencia os instigantes trabalhos de problematização da dramaturgia como os de Claire Denis e os filmes de reavaliação das potencialidades do cinema (e das pessoas) poder em expressar seus sentimentos, como os filmes orientais. Na liberdade da câmera, na sutileza dos contornos narrativos, pela liberdade da dramaturgia, pela força de estrutura, não seria exagero dizer que se Dias em Branco não é o melhor filme dos meninos (o que talvez até seja), é o que mais aponta para novas perspectivas e potenciais na filmografia dos diretores.
de Irmãos Pretti
DVD, 9/12
Há um filme do Arthur Omar chamado Congo, que ele próprio denominou como “um filme em branco”. Em branco, pois o que podemos saber sobre os congos, o que um documentário pode nos fornecer de informação sobre uma manifestação cultural de nós tão distante, quase perdida?
“Dias em Branco” parte mais ou menos da mesma premissa: é um filme em branco. Mas há uma pequena diferença, sutil, mas que faz toda a diferença: um dia “em branco” é muito diferente de um “não-dia”. O “em branco” é sinal de construção. “Não sei o que fazer. Fico o dia todo olhando para a parede branca de meu quarto. Eu poderia filmar essa parece, já que a conheço bem.”. Ou seja, i) a parede em branco significa que existe uma parede; ii) a parede não é motivo simplesmente de paralisia, mas motiva a ação de filmar essa parede.
A partir desse dado simples, os i. pretti desenvolveram um trabalho em continuidade com todos os seus temas (a solidão, o rigor da estrutura, os tempos mortos, a duração) mas absolutamente transformador. Através de uma narrativa paralela mas que não necessariamente se cruza, Dias em Branco é um retrato íntimo de um deslocamento mas sem esbarrar na psicologia ou nas motivações de personagens. Acima de tudo, as pessoas são (isto é, antes de ser branca, a parede existe). Por isso, por trás de um cinema de inércia, da imobilidade e do desconsolo, existe um desejo que pulsa abaixo da superfície, um cinema que busca um caminho de construção por trás do cansaço. Existe uma comunhão implícita entre os personagens, mesmo que eles não se encontrem. Uma proposta de cinema moderna, que tangencia os instigantes trabalhos de problematização da dramaturgia como os de Claire Denis e os filmes de reavaliação das potencialidades do cinema (e das pessoas) poder em expressar seus sentimentos, como os filmes orientais. Na liberdade da câmera, na sutileza dos contornos narrativos, pela liberdade da dramaturgia, pela força de estrutura, não seria exagero dizer que se Dias em Branco não é o melhor filme dos meninos (o que talvez até seja), é o que mais aponta para novas perspectivas e potenciais na filmografia dos diretores.
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