Meus olhos estão cansados, estão cansados de tanto ver. Nas horas vagas, tento lhes dar um descanso, mas tudo os exercita ainda mais. Se ligo a televisão, meus olhos tentam adivinhar o próximo corte, o próximo enquadramento. Se entro no computador, num site, num chat, lá estão meus olhos grudados na tela. Se saio à rua, cada paisagem vira uma locação, cada coisa vira um objeto de cena. Vou jogar tênis de mesa, e meus olhos precisam estar ligados na bolinha. Se vou à locadora e pego um filme de sacanagem, meus olhos querem ver o filme como produto de linguagem, como conjunto de formas (sim, a que ponto cheguei...). Quero buscar um olhar descompromissado, olhar como se fosse a primeira vez, mas isso me lembra de Jonas Mekas, e corro aflito para rever Walden, que me enche de mais imagens. Depois desse descanso, meus olhos estão ainda mais cansados, mais saturados de imagens. O único jeito então é fechar os olhos. Vou dormir, mas são tantas imagens que vejo ao longo do dia, que sonho com mil imagens, desordenadas, confusas, e faço um esforço enorme para tentar decodificá-las, em vão. Acordo cansado, e abro os olhos e começa tudo de novo. Meus olhos são uma espécie de castigo eterno, uma escravidão sem fim. Tento tudo de novo, e não há descanso. Meus olhos lacrimejam, ardem, me torturam. Desesperado, vou à cozinha, e pego uma faca. Não quero mais ver. Quero furar meus olhos.
Mas nisso a luz se apaga. Chove muito. Um apagão. Sento no canto da cozinha com um pouco de alívio. O telefone toca. Uma amiga está aqui no Planalto do Chopp, num bar ao lado da minha casa, e quer passar aqui pra se proteger da chuva e do apagão. Eu deixo. Tem um certo tempo que eu não a via. Seu cheiro é bom. Toco seus cabelos, molhados, macios. Trago uma toalha. Ajudo a secar seu corpo. Tudo acontece. Na luz apagada, sinto seu corpo, seu cheiro, escuto sua voz, chupo seu sexo: não preciso de olhares.
A luz volta com o sol que entra pela janela. Ela não está mais lá. A casa está bagunçada como sempre. Cheiro a toalha, mas ela não está mais molhada. Vou correr no aterro. Agora, tudo está diferente: meus olhos tiveram seu merecido descanso. Volto; tomo um bom banho. Telefono, mas ela não está. Deito na cama, e fecho os olhos. Por enquanto, não penso mais em me matar.
Mas nisso a luz se apaga. Chove muito. Um apagão. Sento no canto da cozinha com um pouco de alívio. O telefone toca. Uma amiga está aqui no Planalto do Chopp, num bar ao lado da minha casa, e quer passar aqui pra se proteger da chuva e do apagão. Eu deixo. Tem um certo tempo que eu não a via. Seu cheiro é bom. Toco seus cabelos, molhados, macios. Trago uma toalha. Ajudo a secar seu corpo. Tudo acontece. Na luz apagada, sinto seu corpo, seu cheiro, escuto sua voz, chupo seu sexo: não preciso de olhares.
A luz volta com o sol que entra pela janela. Ela não está mais lá. A casa está bagunçada como sempre. Cheiro a toalha, mas ela não está mais molhada. Vou correr no aterro. Agora, tudo está diferente: meus olhos tiveram seu merecido descanso. Volto; tomo um bom banho. Telefono, mas ela não está. Deito na cama, e fecho os olhos. Por enquanto, não penso mais em me matar.
Comentários
muito muito bom esse texto. do caralho. o texto já diz tudo, não tenho muito o que dizer, só que tá do caralho esse texto. e também eu estou curioso com essa estória do rosenberg.