(FestRio) Sem Rumo

Sem Rumo
De Nobuhiro Yamashita
Japão, 2003
Est Botafogo 3 sab 17hs
***
Esse pouco conhecido filme japonês de Nobuhiro Yamashita acabou se revelando uma das mais gratas surpresas desse festival. A comédia de Sem Rumo surge a partir do desajeitamento de seus personagens, os dois cineastas Tsuboi e Kinoshita. Por isso, emerge da película uma melancolia em estado bruto, valorizada pelo próprio entrecho, em que os dois personagens esperam numa pousada a chegada de um ator que nunca virá. Essa espécie de “Esperando Godot” japonês se revela com uma visão sobre o tédio, sobre o tempo de espera, sobre o papel da amizade contra a solidão (os dois personagens estão sempre juntos, o que é muito sintomático e bonito) e sobre estar fora de casa, estar numa viagem. Não é a toa que, apesar de ser nitidamente japonês, o filme evoca em alguns momentos o clima cool e relaxado sobre a melancolia próprio do cinema de Jarmusch (este mesmo com diversos pontos de contato com o cinema japonês). Yamashita joga com a linguagem: uma edição de som às vezes perturbadora, esp nas externas, um uso (quase sempre cômico) do espaço e do som fora de plano (exemplo nítido é quando um vizinho rouba deles uma garrafa de bebida alcoólica); deslocamento dos corpos do primeiro plano para o fundo ou vice-versa, uma montagem dentro do plano (como no sintomático plano de abertura do filme). Como o filme surge a partir do desajeitamento, Yamashita mostra ser absolutamente oriental com um trabalho de enorme expressividade corporal dos atores, com base na contenção expressiva. Apesar de cair um pouco de ritmo nos vinte minutos finais, quando os dois personagens vão para uma pensão, Sem Rumo, apesar de ter sido recebido sem grande destaque nos festivais internacionais (ou pelo menos não se tem notícias do contrário), mereceria melhor destaque ao passar por aqui. Infelizmente não deve ser exibido comercialmente, fazendo com que o público desconheça uma obra de grandes méritos e de forte valor expressivo.

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