(FestRio) Agente Triplo
Agente Triplo
de Eric Rohmer
***
Depois da grande porrada que foi NOBODY KNOWS, um descanso: caguei pro novo Raul Ruiz e fui para casa, preparar meu espírito para uma nova empreitada, o novo Rohmer. Agente Triplo é mais um filme como todos os outros do Rohmer, sobre a impossibilidade da linguagem, sobre como a vida é um jogo de espelhos, sobre como a verdade é absolutamente fugidia. Mas tem um corolário ético (claro), típico do cinema de Rohmer: ainda assim é preciso escolher um lado, não se pode ficar o tempo todo em cima do muro. Por isso, pra mim, o personagem principal do filme é aquela mulher, que merecidamente se fudeu, ela é culpada mesmo sem saber porque o foi e qual seu crime. Seu crime é a cumplicidade sim, mas mais que isso, a omissão (claro, Rohmer é absolutamente católico...). Não adianta alienar-se, fingir-se de morta: a mulher tinha o dever sim de saber o que o marido fazia, e não o fez por ser mais confortável pra ela, mesmo com toda a culpa e a choradeira da cena final quando o marido praticamente confessa o crime, ela no fundo no fundo assumiu que o defenderia (ela disse que o marido estava com ela quando os caras retornam ao aprtamento). Por isso, ela morreu, mereceu morrer mesmo. Daí que Agente Triplo é um filme-piada: no final, pergunta-se: e qual o destino daquela doce mulher: MORREU!, um coro responde, com efeito cômico. Pareceque o filme todo foi feito pra contar essa piada, que se justifica plenamente.
Tem uma coisa engraçada no filme que é quando o marido diz que está contando a verdade o tempo todo mas as pessoas não acreditam nele. Sim, mas será que essa própria frase é verdade? Agente Triplo é um jogo de modulações, em como a linguagem é completamente ardilosa em revelar algo verdadeiro. E o próprio Agente Triplo se fudeu, morreu também (o filme brinca com isso, será que morreu mesmo? mas provavelmente sim). Como sempre mais um corolário ético de Rohmer: a esposa fiel pintava aqueles quadros bizonhos, diferentemente de Picasso que fez Guernica. Não adianta ser “simpatizante”, tolerante com o outro, pois o que conta é o que se fez de concreto para mudar a coisa. Com sua alienação, com o seu “lavar as mãos”, a mulher é culpada sim, e por isso Agente Triplo é o mais político e o mais religioso filme de Rohmer. Agora, é grande cinema porque também é sobre a linguagem, e porque é o mesmo filme de sempre do Rohmer e absolutamente diferente. Rohmer é dos grandes, e mesmo que Agente Triplo não seja um de seus melhores filmes, é grande, grande cinema.
p.s.: antes do Rohmer passou um curta em vídeo bizonho da RBS gaúcha, sobre um cego que grava coisas no táxi, um daqueles curtas que não poderiam ter sido filmados, absolutamente imbecis, e nada ver com o Rohmer, que deu vontade de vaiar, dizer que o cinema nacional é uma bosta e que os curta-metragistas tem que morrer de fome. é mole... ói como é rúim...
de Eric Rohmer
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Depois da grande porrada que foi NOBODY KNOWS, um descanso: caguei pro novo Raul Ruiz e fui para casa, preparar meu espírito para uma nova empreitada, o novo Rohmer. Agente Triplo é mais um filme como todos os outros do Rohmer, sobre a impossibilidade da linguagem, sobre como a vida é um jogo de espelhos, sobre como a verdade é absolutamente fugidia. Mas tem um corolário ético (claro), típico do cinema de Rohmer: ainda assim é preciso escolher um lado, não se pode ficar o tempo todo em cima do muro. Por isso, pra mim, o personagem principal do filme é aquela mulher, que merecidamente se fudeu, ela é culpada mesmo sem saber porque o foi e qual seu crime. Seu crime é a cumplicidade sim, mas mais que isso, a omissão (claro, Rohmer é absolutamente católico...). Não adianta alienar-se, fingir-se de morta: a mulher tinha o dever sim de saber o que o marido fazia, e não o fez por ser mais confortável pra ela, mesmo com toda a culpa e a choradeira da cena final quando o marido praticamente confessa o crime, ela no fundo no fundo assumiu que o defenderia (ela disse que o marido estava com ela quando os caras retornam ao aprtamento). Por isso, ela morreu, mereceu morrer mesmo. Daí que Agente Triplo é um filme-piada: no final, pergunta-se: e qual o destino daquela doce mulher: MORREU!, um coro responde, com efeito cômico. Pareceque o filme todo foi feito pra contar essa piada, que se justifica plenamente.
Tem uma coisa engraçada no filme que é quando o marido diz que está contando a verdade o tempo todo mas as pessoas não acreditam nele. Sim, mas será que essa própria frase é verdade? Agente Triplo é um jogo de modulações, em como a linguagem é completamente ardilosa em revelar algo verdadeiro. E o próprio Agente Triplo se fudeu, morreu também (o filme brinca com isso, será que morreu mesmo? mas provavelmente sim). Como sempre mais um corolário ético de Rohmer: a esposa fiel pintava aqueles quadros bizonhos, diferentemente de Picasso que fez Guernica. Não adianta ser “simpatizante”, tolerante com o outro, pois o que conta é o que se fez de concreto para mudar a coisa. Com sua alienação, com o seu “lavar as mãos”, a mulher é culpada sim, e por isso Agente Triplo é o mais político e o mais religioso filme de Rohmer. Agora, é grande cinema porque também é sobre a linguagem, e porque é o mesmo filme de sempre do Rohmer e absolutamente diferente. Rohmer é dos grandes, e mesmo que Agente Triplo não seja um de seus melhores filmes, é grande, grande cinema.
p.s.: antes do Rohmer passou um curta em vídeo bizonho da RBS gaúcha, sobre um cego que grava coisas no táxi, um daqueles curtas que não poderiam ter sido filmados, absolutamente imbecis, e nada ver com o Rohmer, que deu vontade de vaiar, dizer que o cinema nacional é uma bosta e que os curta-metragistas tem que morrer de fome. é mole... ói como é rúim...
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