O matador
O Matador - Gunfighter, dir, Henry King
Telecine Classic
***
Hoje vi O Matador, do Henry King, e realmente é impressionante. O filme tem um postulado ético muito forte e presente ao longo de todo o filme. É um faroeste B que a princípio o diretor teria muito pouca margem de manobra para fazer um trabalho criativo. e assim King opta pela simplicidade, e a decupagem é de uma austeridade muito muito convincente. Tudo é dramaturgia, como o bom e velho cinema americano.
Há duas cenas que me impressionaram muito, muito mesmo. A primeira é qdo o xerife vai lá avisar à professora que o Ringo está na cidade. O xerife chega à escola; os alunos estão eufóricos pq não tem aula. Não sabemos que a professora é a tal mulher do Ringo. Como o diretor vai mostrar isso? Com uma cena de enorme simplicidade, com o recurso mais básico do cinema: o campo-contracampo. 1) O xerife abre a porta; 2) a porta sendo aberta e revelando o xerife; 3) CC - um grande plano geral - a professora sozinha sentada na mesa no fundo da sala - ela está cabisbaixa; 4) =2: volta para o xerife. Ou seja, tudo está lá: a solidão, o destino, a paixão ambígua do xerife pela professora; a inocência perdida; o papel do tempo; a estética da simplicidade; a distância afetiva. Tudo está lá com um simples campo-contracampo. E mais: um recurso dramatúrgico de puro cinema - ficamos sabendo sem nenhuma palavra que a professora é a tal mulher do Ringo.
Outra cena foi qdo o filho do Ringo adentra a sala e vê o pai. Ringo está olhando pela janela, preocupado se algum herói desocupado vai invadir a sala para tentar matá-lo. Surge o garoto, com uma espontaneidade, com uma ligeireza... e aí, no instinto, o Ringo puxa o gatilho, e, num segundo, percebe que é o filho, e fica com vergonha de sua reação, e baixa os olhos. O principal pistoleiro do velho oeste não consegue encarar uma criança, seu próprio filho! Mas é tudo o que está em jogo no filme, e tbem tudo é decidido num simples campo-contracampo.
Esses dois momentos são chave no filme, e a sensibilidade do diretor é saber apreender esses momentos e carregá-los de dramaturgia. Mas o filme todo é bom, e o roteiro é muito forte (aliás, do Andre de Toth). E é tão psicológico, e sobre a perda, regeneração, etc. quanto os psicológicos quanto Shane e cia. E anterior. Belo filme.
Telecine Classic
***
Hoje vi O Matador, do Henry King, e realmente é impressionante. O filme tem um postulado ético muito forte e presente ao longo de todo o filme. É um faroeste B que a princípio o diretor teria muito pouca margem de manobra para fazer um trabalho criativo. e assim King opta pela simplicidade, e a decupagem é de uma austeridade muito muito convincente. Tudo é dramaturgia, como o bom e velho cinema americano.
Há duas cenas que me impressionaram muito, muito mesmo. A primeira é qdo o xerife vai lá avisar à professora que o Ringo está na cidade. O xerife chega à escola; os alunos estão eufóricos pq não tem aula. Não sabemos que a professora é a tal mulher do Ringo. Como o diretor vai mostrar isso? Com uma cena de enorme simplicidade, com o recurso mais básico do cinema: o campo-contracampo. 1) O xerife abre a porta; 2) a porta sendo aberta e revelando o xerife; 3) CC - um grande plano geral - a professora sozinha sentada na mesa no fundo da sala - ela está cabisbaixa; 4) =2: volta para o xerife. Ou seja, tudo está lá: a solidão, o destino, a paixão ambígua do xerife pela professora; a inocência perdida; o papel do tempo; a estética da simplicidade; a distância afetiva. Tudo está lá com um simples campo-contracampo. E mais: um recurso dramatúrgico de puro cinema - ficamos sabendo sem nenhuma palavra que a professora é a tal mulher do Ringo.
Outra cena foi qdo o filho do Ringo adentra a sala e vê o pai. Ringo está olhando pela janela, preocupado se algum herói desocupado vai invadir a sala para tentar matá-lo. Surge o garoto, com uma espontaneidade, com uma ligeireza... e aí, no instinto, o Ringo puxa o gatilho, e, num segundo, percebe que é o filho, e fica com vergonha de sua reação, e baixa os olhos. O principal pistoleiro do velho oeste não consegue encarar uma criança, seu próprio filho! Mas é tudo o que está em jogo no filme, e tbem tudo é decidido num simples campo-contracampo.
Esses dois momentos são chave no filme, e a sensibilidade do diretor é saber apreender esses momentos e carregá-los de dramaturgia. Mas o filme todo é bom, e o roteiro é muito forte (aliás, do Andre de Toth). E é tão psicológico, e sobre a perda, regeneração, etc. quanto os psicológicos quanto Shane e cia. E anterior. Belo filme.
Comentários